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Materiais de Construção Mecânica na Indústria do Plástico: Aplicação do Cobre-Berílio

  • Sérgio Mello
  • 16 de mar.
  • 5 min de leitura

Na indústria do plástico, a escolha dos materiais para componentes e moldes mecânicos é essencial para garantir a performance e a produtividade das operações. Tradicionalmente, utilizamos aços como AISI P20, AISI H13, 1.2343 e AISI 420, conhecidos pela sua resistência ao desgaste e alta capacidade de suportar condições severas de trabalho a quente. Além disso, o alumínio 7050 se destaca especialmente em processos como sopro e termoformagem, oferecendo excelente leveza e boa usinabilidade.


Contudo, um material que vem ganhando destaque em termos de eficiência térmica e redução de ciclos de produção é a liga de cobre-berílio. Essa liga, que combina cobre e berílio, apresenta uma condutividade térmica superior, o que a torna ideal para otimizar processos de transferência de calor e melhorar a produtividade dos moldes.

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Por que continuamos usando os mesmos materiais?


Tá certo que os aços convencionais resolvem muita coisa na indústria. O P20 é aquele coringa que todo moldista conhece, o H13 aguenta o tranco das temperaturas mais altas, e por aí vai. Mas a gente precisa reconhecer que em termos de eficiência térmica, esses caras deixam a desejar.


Se formos analisar tecnicamente, o AISI P20 (1.2311) tem condutividade térmica de aproximadamente 29 W/m·K, enquanto o H13 fica na casa dos 25 W/m·K. Em termos práticos? Dissipação de calor lenta, ciclos mais longos, maior consumo energético. Em muitos casos, a gente acaba aceitando ciclos mais longos por pura inércia, né? "Sempre fizemos assim" é aquela desculpa que a gente escuta nos corredores. Mas será que dá pra fazer diferente? A resposta sempre será um sim!


A Liga de Cobre-Berílio: O diferencial que talvez você não sabia que precisava


Vamos falar sério: tempo é dinheiro. E é aí que entra a liga de cobre-berílio. Esse material é um game-changer quando falamos de transferência de calor em moldes.

As ligas de cobre-berílio mais usadas na indústria (C17200 e C17510) apresentam condutividade térmica na faixa de 105-130 W/m·K. Isso é absurdamente superior aos aços! Estamos falando de uma diferença que pode chegar a 5x na capacidade de transferir calor.


A liga de cobre-berílio é extremamente útil em componentes de moldes que exigem alta dissipação térmica, como:


  • Inserções e cavidades: Proporcionam um resfriamento mais eficiente, resultando em redução de tempos de ciclo de até 20-40% em alguns casos que tenho acompanhado. Pensa numa cavidade de um copo de 200ml - troca os insertos para Cu-Be nas áreas críticas e o ciclo cai de 12 para 8 segundos. É muita diferença!

  • Pinos extratores: Os tradicionais pinos de aço podem ser verdadeiros "pontos quentes" no molde. Já os de cobre-berílio dissipam calor muito mais rápido, minimizando o risco de aderência do plástico e aumentando a vida útil do seu equipamento. Esse é um hack que poucos moldistas conhecem, mas que muda completamente o jogo em peças técnicas.

  • Bicos de injeção e canais quentes: Meu amigo, quem nunca sofreu com entupimento ou degradação em sistemas de canais quentes? A melhoria na transferência de calor otimiza o fluxo de material, garantindo peças com maior qualidade e menos defeitos. Em materiais sensíveis como PC ou POM, a diferença é gritante!


Números não mentem

Com uma condutividade térmica até 10 vezes maior que a dos aços tradicionais, o uso de cobre-berílio não é apenas um capricho de engenheiro. Estamos falando de resultados práticos:

  • Redução média de 25-30% nos ciclos de produção

  • Melhoria significativa na estabilidade térmica do processo

  • Redução de tensões internas nas peças, resultando em melhor precisão dimensional

  • Menor consumo energético por peça produzida

  • Diminuição de até 75% no tempo de stabilização térmica do molde no início da produção


Um cliente meu trocou insertos de aço por cobre-berílio em áreas críticas de um molde de tampas plásticas e reduziu o ciclo de 12 para 8,5 segundos. Parece pouco? Faz as contas: são quase 30% a mais de produtividade sem investir em novas máquinas! No fim do mês, eram mais de 200 mil peças a mais sendo produzidas no mesmo equipamento.


O lado B: custos e manutenção


Claro que não é só maravilha. O cobre-berílio custa mais que os aços convencionais, isso é fato. A depender do fornecedor e da liga específica, pode custar de 3 a 8 vezes mais por quilo que o aço P20. Além disso, exige alguns cuidados na usinagem e manutenção.


Na usinagem, as ferramentas se desgastam mais rápido devido à abrasividade do material. Os parâmetros de corte precisam ser ajustados - velocidades mais altas e avanços menores geralmente funcionam melhor. É quase como usinar um latão de alta resistência.


Outra coisa que poucos falam: por conter berílio, requer cuidados de segurança durante a usinagem para evitar a inalação de partículas. O pó de berílio é tóxico, então sistemas de exaustão adequados são fundamentais. Mas vamos ser práticos: o retorno sobre investimento geralmente compensa, especialmente em produções de alto volume onde cada segundo economizado no ciclo representa ganhos significativos no fim do mês.

Aplicação prática: onde faz mais sentido?


Nem todo molde precisa ser feito 100% de cobre-berílio. A abordagem mais inteligente é identificar os "pontos quentes" e utilizar a liga estrategicamente:


  • Em áreas de difícil refrigeração

  • Próximo a gates de injeção

  • Em regiões onde ocorrem empenamentos frequentes

  • Em peças com paredes finas que precisam solidificar rapidamente

  • Em detalhes finos que exigem preenchimento rápido e uniforme


A combinação inteligente de materiais (aço + cobre-berílio) geralmente oferece o melhor custo-benefício. É tipo aquela história de "usar a ferramenta certa para o trabalho certo".


Tratamentos superficiais e manutenção


Falando em aplicação prática, é crucial entender como trabalhar com Cu-Be no dia a dia:

  • Tratamentos superficiais: O nitretamento a plasma tem apresentado excelentes resultados para aumentar a dureza superficial sem comprometer a condutividade térmica. Já a cromagem dura deve ser evitada, pois pode criar uma barreira térmica indesejada.

  • Polimento: O Cu-Be aceita polimento de alto brilho (espelhado), mas requer técnicas específicas. O uso de pastas diamantadas em granulometria decrescente, seguido de polimento com óxido de cromo, geralmente dá os melhores resultados.

  • Soldabilidade: Em caso de necessidade de reparos, o Cu-Be pode ser soldado com técnicas TIG específicas para ligas de cobre. É importante usar material de adição compatível e realizar pré-aquecimento adequado.

  • Refrigeração: Como o material transfere calor mais rapidamente, os circuitos de refrigeração podem ser otimizados. Em alguns casos, é possível reduzir o diâmetro dos canais ou aumentar seu espaçamento, facilitando o projeto do molde.


Propriedades mecânicas: o que ninguém te conta


Falando em números que importam, o cobre-berílio não é só bom na transferência de calor. As ligas para moldes geralmente apresentam:


  • Resistência à tração: 1000-1400 MPa (comparável a muitos aços!)

  • Dureza: 35-42 HRC após tratamento térmico adequado

  • Resistência à fadiga: Excelente, suportando milhões de ciclos

  • Resistência à corrosão: Superior aos aços convencionais


Isso significa que, além da vantagem térmica, você não perde em resistência mecânica.


Considerações finais


Em um mercado cada vez mais competitivo, a escolha do material certo é fundamental para garantir a alta performance dos processos de produção. Se você já utilizou cobre-berílio nos seus processos, compartilhe sua experiência nos comentários! Vamos discutir como a inovação material pode impactar diretamente a eficiência na indústria do plástico.




Referências:

  1. Harada, J. "Moldes para Injeção de Termoplásticos: Materiais e Projeto". Artliber, 2ª Ed, 2020.

  2. Copper Development Association. "Copper-Beryllium Alloys in Plastic Mold Applications". Technical Brief, 2021.

  3. Menges, G.; Michaeli, W.; Mohren, P. "How to Make Injection Molds". Hanser, 4ª Ed, 2019.

  4. Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST). "Manual de Boas Práticas na Fabricação de Moldes", 2020.

 
 
 

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